Foto: Charles Guerra (Diário)
Os professores (da esquerda para direita) Elisandra, Carluza, Rosa, Francieli e Jâneo enfrentam dificuldades para pagar as contas
Por meio de uma nota, o governo do Estado anunciou, no fim da manhã de ontem, que deve começar a pagar a folha salarial de outubro só partir do dia 12 de novembro. Vai ser o 35º mês em que o salário dos funcionários do Executivo não é pago em dia. Porém, é a primeira vez, nesse período, em que nenhum servidor irá receber no último dia útil do mês vigente. E mais: é o maior atraso desde 2015.
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Nem mesmo os salários da folha de setembro foram pagos em sua totalidade. Ao todo, o governo ainda precisa desembolsar R$ 180 milhões para quitar a folha do mês retrasado. Pela primeira vez na gestão de José Ivo Sartori (MDB), as duas folhas salariais irão se cruzar.
Se, por um lado, as finanças do Estado parecem chegar em níveis caóticos - com uma dívida acumulada na casa dos R$ 69 bilhões - por outro, existem servidores que precisam fazer malabarismo para pagar as contas. A professora Rosa do Carmo é uma entre tantos servidores com os vencimentos atrasados. Mesmo com a dificuldade que enfrenta, ela tira forças para substituir colegas que não têm nem dinheiro para ir para a escola.
- A gente precisa substituí-los porque moramos perto da escola. É bem difícil a situação, pois temos vários compromissos financeiros e não temos como cumprir - desabafa ela.
Com as contas em atraso, não sobra outra alternativa a não ser recorrer a um empréstimo no Banrisul, como é o caso da professora Elisandra Lovato.
- É constrangedor. Os juros dos empréstimos saem do meu bolso, porém é um direito meu receber o salário em dia - comenta ela.
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SINDICATOS
Representantes de sindicatos de servidores em Santa Maria e região atribuem o maior atraso até hoje a "uma represália" do governo Sartori por não ter sido reeleito. Já a Secretaria da Fazenda, em nota, sustenta que o atraso "é a face mais visível de um Estado que ainda não encontrou o equilíbrio" das contas.
DRAMA QUE SE ARRASTA
Representantes de sindicatos de diferentes categorias foram ouvidos pelo Diário, ontem, sobre o anúncio do governo do Estado de só começar a pagar os salários referente à folha de outubro a partir de 12 de novembro. Confira:
"Para nós, soa como um deboche, mas também não é nada do que nós não tivéssemos previsto. Vínhamos informando à categoria de que as folhas de pagamento poderiam se cruzar. Vimos também essa atitude como uma espécie de revanchismo por causa do resultado nas eleições. Derrotado nas urnas, me parece uma espécie de birra daquele que não sabe perder uma eleição e transfere os seus problemas para o próximo governador, prejudicando os trabalhadores. Enquanto isso, os servidores da segurança estão com os salários atrasados, o que levou alguns colegas a uma completa quebra nas finanças. Pelo desiquilíbrio financeiro, muitos policiais não estão conseguindo cumprir com suas obrigações."
Pablo Mesquita,
secretário-geral do Sindicato de Escrivães, Inspetores e Investigadores da Polícia Civil do Estado (Simpol RS)
"A nossa associação enxerga isso como um desrespeito ao servidor, principalmente ao militar, que tenta, de todas as formas, defender a população. Acreditamos que é uma retaliação política. Com a derrota, ele comete esse ato de atrocidade com o servidor, esquecendo que, por trás de uma farda, existe um pai e uma mãe de família que precisam manter e sustentar seus familiares. O parcelamento não atrapalha o trabalho em si, mas afeta o psicológico, porque tu não sabes como vai ser o sustento da família. Tanto é que o índice de criminalidade se mantém caindo, então, por isso, reafirmamos o nosso entendimento que há um desrespeito ao servidor público militar."
João Valdemir Silva Correa, presidente da Associação Beneficente Antônio Mendes Filho dos Servidores de Nível Médio da Brigada Militar, na Região Central (Abamf)
"Enxergamos como um desrespeito aos servidores. Desde o primeiro mês de parcelamento, já deu para notar como o governo Sartori iria tratar os servidores públicos. Até então, ele nunca tinha tomado uma medida tão radical, de não pagar nem os menores salários. A maioria dos servidores está atolada em dívidas no Banrisul, e vai se atolar ainda mais, não tem o que fazer. Acho que, pelo primeiro mês, praticamente todos os servidores irão ter que adotar empréstimo no Banrisul. Aliás, quem paga os salários, ultimamente, tem sido o Banrisul. Se tu queres receber o salário em dia, precisa pegar a linha de crédito do banco, pagando juros. Não é à toa que o Banrisul está superavitário."
Diva Costa,
diretora do Sindicato dos Servidores Públicos do Estado, (Sindisepe/RS)
"Para nós, é uma retaliação política que estamos sofrendo. É fruto da derrota política da eleição. Vai deixar a sua marca e fazer aquilo que queria fazer há muito tempo. Estamos convocando a categoria para cruzar os braços amanhã (hoje), fazendo um dia de paralisação. Alguns professores não têm como irem trabalhar. Sobre ações na Justiça, nós já entramos com todas as possíveis, inclusive com decisões favoráveis em tribunais superiores. Porém, há uma certa leniência do Judiciário, quando alega que o Estado enfrenta uma grave crise financeira. Então, não estamos enfrentando uma situação completamente nova, porém, obviamente, com a derrota eleitoral, isso se acentuou."
Rafael Torres, diretor-geral do 2º núcleo do Cpers/Sindicato
"A nossa posição tem sido tomada desde o início do governo Sartori. Tomamos várias iniciativas, não somente isoladas, mas também com outros sindicatos, principalmente na área da segurança. Entramos com ações na Justiça, mas, infelizmente, não prosperaram, aqui, no Estado. Tivemos recursos em nível federal, mas ainda não tiveram trânsito em julgado (ainda cabe recurso). Almejávamos o mínimo de diálogo com a Casa Civil e com o governo do Estado, coisa que não aconteceu. Por mais que o governador Sartori venha a dizer que a situação econômica se encontra no vermelho, na campanha, ele vinha com palavras de diálogo e de construção, o que mais uma vez se ratificou com ele não sendo eleito. Tomamos todas as medidas no âmbito Legislativo e Judiciário. Hoje, não vemos mais nenhuma alternativa a ser feita, a não ser torcer para que ocorra logo a transição e que o novo governo tenha diálogo conosco e valorizar os servidores."
Ubirajara Ramos, coordenador-geral da Associação dos Bombeiros do Estado (Abergs)